Quilombos

Talhado é uma quilombo (comunidade quilombola), Serra do Talhado, localizada na cidade de Santa Luzia na mesorregião do seridó ocidental da Borborema, no estado da Paraíba, no Brasil. Foi criado pelo negro conhecido por Zé Bento, no alto da serra, para dificultar o acesso dos brancos que queriam recapturar escravos fugitivos.

Ali sobreviveram da agricultura. Após a Abolição da Escravatura, as mulheres, que eram exímias artesãs, passaram a confeccionar potes, caldeirões, frigideiras e ferros de engomar, entre outros utensílios para o lar, tudo em cerâmica que depois era assada e ficava vermelha e bem resistente, e que iam vender semanalmente aos sábados, no lombo de jumentos, na feira de Santa Luiza, ao lado do mercado público.

O Talhado hoje em dia se modernizou, mas não perdeu a veia artística e abriga bons "forrozeiros", ditos como os melhores da região.

Referências maiores sobre a comunidade podem ser ser obtidas no filme Aruanda. Tal filme, considerado por alguns o primeiro do Cinema Novo, tem direção de Linduarte Noronha, e pode ser visto gratuitamente na internet.


Aruanda

“Aruanda”, que significa “terra de promissão”, nasceu a partir de um texto jornalístico escrito pelo próprio Noronha, que tratava dos quilombos e sobre a essência da vida nordestina. Para uma reportagem de 1958, Linduarte visitou as oleiras de Olho d’água, na Serra do Talhado, e descobriu que ali não existia registro documental das origens da região, que outrora fora um quilombo.

Ele adaptou seu texto para um roteiro de documentário e retratou em filme a realidade do nordestino que vivia isolado no sertão. Com equipamentos do Instituto Nacional do Cinema Educativo (Ince), obtidos por meio de interferência de outro grande nome do cinema, Humberto Mauro (1897-1983), Lindolfo voltou à Serra do Talhado com sua equipe formada por Rucker Vieira (1931-2001), João Ramiro Mello (1934-2003) e Vladimir Carvalho, pronto para fazer história.

O curta de 1960 é considerado a gênese da escola de documentários etnográficos brasileiros. 

Acompanhava uma família camponesa descendente de escravos, que deixa a propriedade na isolada Serra do Talhado rumo a algum lugar melhor. A jornada remete à “Vidas Secas”, romance de Graciliano Ramos adaptado para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963. 

Apesar de documental, “Aruanda” é carregada de belos momentos líricos, ao som da canção chorosa “Ô Mana Deixa Eu Ir”, na voz de Othamar Ribeiro. 

Ao ver o filme, o jovem Glauber Rocha, na época crítico de cinema, tornou-se seu defensor e admirador imediato de Noronha. Rocha comparou o pernambucano ao italiano Roberto Rossellini, que com “Roma, Cidade Aberta” (1945) tornou mundialmente conhecido o neorrealismo italiano. 

No entanto, a grande repercussão de “Aruanda” veio na década seguinte, quando Glauber Rocha seguiu os passos do ídolo que o inspirou, e substituiu o papel por fotogramas – o que culminou no Cinema Novo. O cinema brasileiro respirava novos ares.













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