quarta-feira, 25 de julho de 2012

Colunista do Jornal da Paraíba diz que Vale perderá com a rodovia da integração

O colunista do Jornal da Paraíba, Rubens Nóbrega, diz que o Vale do Sabugi perderá com a Rodovia da Integração, anunciada recentemente pelo Governo do Estado da Paraíba.

Estrada divide sertanejos
 
A construção de uma estrada de 80 km ligando Patos à localidade de Barra, em Juazeirinho, passando por cinco pequenos municípios da Serra da Viração, no Sertão paraibano, ameaça “isolar o Vale do Sabugi do principal fluxo rodoviário do Estado (BR 230), com sérias conseqüências”.

O alerta é de experiente e respeitado técnico, natural de Santa Luzia, que de tão preocupado com os efeitos da obra na economia de sua região resolveu chamar a atenção do seu conterrâneo Efraim Morais (secretário de Infraestrutura do Estado) e do próprio governador Ricardo Coutinho.

A rodovia por onde trafegam desde já os temores do santaluziense teve construção autorizada no último dia 3 pelo governador. Previamente batizada de Estrada da Reintegração, deve interligar os municípios de Assunção, Areia de Baraúnas, Salgadinho, Passagem e Quixaba. 

Segundo a fonte da coluna, a nova estrada pode beneficiar no máximo 13 mil pessoas e prejudicar no mínimo 36 mil sertanejos distribuídos nos municípios de Junco do Seridó, Santa Luzia, São Mamede, São José do Sabugi e Várzea.

O aflito cidadão garante que o prejuízo decorrerá, sobretudo, do desvio no todo ou em boa parte de mais de mil carros que diariamente usam a BR 230 para ir ou voltar do Sertão passando e cortando as cidades de Junco, Santa Luzia e São Mamede.
“Com o desvio de um tráfego que flui há 40 anos pela BR 230, a economia do Sabugi, dependente quase total da rodovia federal, sofrerá um baque pior do que aquele que aconteceu quando o bicudo arrasou nossa lavoura de algodão”, prevê o técnico.

Município por município, ele quantificou as prováveis baixas que a mudança provocará. Estima que no Junco, por exemplo, desaparecerão de imediato pelo menos 157 empregos diretos e número equivalente de indiretos com a quebra do comércio de castanha, frutas regionais e pedras ornamentais.

“Teremos, além disso, o fechamento ou retração de no mínimo 80% nos negócios de dois hotéis, duas pousadas, oito quiosques, um restaurante, cinco oficinas mecânicas, quatro borracharias e um posto de gasolina”, acentua.
Calcula que as perdas desses estabelecimentos botarão no olho da rua da amargura mais duas centenas de trabalhadores (frentistas, vigilantes, cozinheiros, garçons, arrumadeiras, lavadeiras, borracheiros, mecânicos, ajudantes de mecânico e outros). Somando tudo, por baixo teremos 514 pais e arrimos de família desempregados.

Já em Santa Luzia, tem como certa a falência de quatro lojas de autopeças, cinco borracharias, nove restaurantes, seis lanchonetes, um hotel, oito pousadas, cinco cerâmicas e quatro postos de gasolina. Entre empregos diretos e indiretos, acredita que serão outros 600 trabalhadores desempregados no Sabugi.

Em São Mamede, onde a passagem de carros, caminhões e ônibus pela BR 230 é vital para a vida na cidade, serão duramente afetados dois grandes restaurantes, “os mais bem instalados e movimentados de toda a BR 230, onde também funciona o maior comércio de queijos artesanais da região”.

Não é só. Naquele município serão penalizados ainda duas cerâmicas, duas pousadas, três borracharias e um posto de gasolina, “além de mais de 20 vendedores de peixes e crustáceos pescados no açude local”.

Serão extintos 350 postos de trabalho em São Mamede. Em todo o Sabugi, 1.464 trabalhadores deixarão de ganhar o sustento de suas famílias, que somadas chegam a 5 mil pessoas.

Prejuízo pode ser maior
“Esses números que levantei refletem unicamente os empregos a serem perdidos exclusivamente nas atividades fins. A cadeia produtiva do sistema envolve um número bem maior de pessoas e necessita de cálculos especializados para se chegar ao seu dimensionamento total”, observa o técnico. 

Ao se referir à cadeia produtiva, nela inclui os caprinocultores que fornecem carne e leite para os restaurantes, os agricultores que se sustentam da produção do caju e da castanha, da pinha, da goiaba, do umbu etc. “e famílias inteiras que sobrevivem do queijo que fazem ou vendem na BR”, reforça.

O técnico lamenta que a construção da nova estrada não tenha sido planejada de modo a evitar o desvio do tráfego atualmente atendido pela BR 230. Questiona ainda a falta de discussão com os potenciais prejudicados e de alternativas de emprego e renda para os que podem ficar sem nada.

“Os municípios da Serra da Viração merecem o progresso, sim, mas não em detrimento da débil economia do Vale do Sabugi com sua população quatro vezes maior”, protesta.

Ricardo nem aí
 
Usei o twitter semana passada para avisar ao governador e ao Doutor Efraim que por i-meio, com pedido de posicionamento oficial, enviaria as considerações do santaluziense aperreado com a nova estrada. Avisei e mandei, no mesmo dia (sexta, 20).

Nada recebi do governante ou do governo, que tem obrigação – inclusive por força de lei – de prestar informações e esclarecimentos. Não ao colunista, mas ao público em geral e, nesse caso, particularmente a mais de 36 mil paraibanos ameaçados em sua sobrevivência por incompetência ou falta de planejamento.

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