Estrada divide sertanejos
A construção de
uma estrada de 80 km ligando Patos à localidade de Barra, em
Juazeirinho, passando por cinco pequenos municípios da Serra da Viração,
no Sertão paraibano, ameaça “isolar o Vale do Sabugi do principal fluxo
rodoviário do Estado (BR 230), com sérias conseqüências”.
O alerta é de
experiente e respeitado técnico, natural de Santa Luzia, que de tão
preocupado com os efeitos da obra na economia de sua região resolveu
chamar a atenção do seu conterrâneo Efraim Morais (secretário de
Infraestrutura do Estado) e do próprio governador Ricardo Coutinho.
A rodovia por
onde trafegam desde já os temores do santaluziense teve construção
autorizada no último dia 3 pelo governador. Previamente batizada de
Estrada da Reintegração, deve interligar os municípios de Assunção,
Areia de Baraúnas, Salgadinho, Passagem e Quixaba.
Segundo a fonte
da coluna, a nova estrada pode beneficiar no máximo 13 mil pessoas e
prejudicar no mínimo 36 mil sertanejos distribuídos nos municípios de
Junco do Seridó, Santa Luzia, São Mamede, São José do Sabugi e Várzea.
O aflito
cidadão garante que o prejuízo decorrerá, sobretudo, do desvio no todo
ou em boa parte de mais de mil carros que diariamente usam a BR 230 para
ir ou voltar do Sertão passando e cortando as cidades de Junco, Santa
Luzia e São Mamede.
“Com o desvio
de um tráfego que flui há 40 anos pela BR 230, a economia do Sabugi,
dependente quase total da rodovia federal, sofrerá um baque pior do que
aquele que aconteceu quando o bicudo arrasou nossa lavoura de algodão”,
prevê o técnico.
Município por
município, ele quantificou as prováveis baixas que a mudança provocará.
Estima que no Junco, por exemplo, desaparecerão de imediato pelo menos
157 empregos diretos e número equivalente de indiretos com a quebra do
comércio de castanha, frutas regionais e pedras ornamentais.
“Teremos, além
disso, o fechamento ou retração de no mínimo 80% nos negócios de dois
hotéis, duas pousadas, oito quiosques, um restaurante, cinco oficinas
mecânicas, quatro borracharias e um posto de gasolina”, acentua.
Calcula que as
perdas desses estabelecimentos botarão no olho da rua da amargura mais
duas centenas de trabalhadores (frentistas, vigilantes, cozinheiros,
garçons, arrumadeiras, lavadeiras, borracheiros, mecânicos, ajudantes de
mecânico e outros). Somando tudo, por baixo teremos 514 pais e arrimos
de família desempregados.
Já em Santa
Luzia, tem como certa a falência de quatro lojas de autopeças, cinco
borracharias, nove restaurantes, seis lanchonetes, um hotel, oito
pousadas, cinco cerâmicas e quatro postos de gasolina. Entre empregos
diretos e indiretos, acredita que serão outros 600 trabalhadores
desempregados no Sabugi.
Em São Mamede,
onde a passagem de carros, caminhões e ônibus pela BR 230 é vital para a
vida na cidade, serão duramente afetados dois grandes restaurantes, “os
mais bem instalados e movimentados de toda a BR 230, onde também
funciona o maior comércio de queijos artesanais da região”.
Não é só.
Naquele município serão penalizados ainda duas cerâmicas, duas pousadas,
três borracharias e um posto de gasolina, “além de mais de 20
vendedores de peixes e crustáceos pescados no açude local”.
Serão extintos
350 postos de trabalho em São Mamede. Em todo o Sabugi, 1.464
trabalhadores deixarão de ganhar o sustento de suas famílias, que
somadas chegam a 5 mil pessoas.
Prejuízo pode ser maior
“Esses números
que levantei refletem unicamente os empregos a serem perdidos
exclusivamente nas atividades fins. A cadeia produtiva do sistema
envolve um número bem maior de pessoas e necessita de cálculos
especializados para se chegar ao seu dimensionamento total”, observa o
técnico.
Ao se referir à
cadeia produtiva, nela inclui os caprinocultores que fornecem carne e
leite para os restaurantes, os agricultores que se sustentam da produção
do caju e da castanha, da pinha, da goiaba, do umbu etc. “e famílias
inteiras que sobrevivem do queijo que fazem ou vendem na BR”, reforça.
O técnico
lamenta que a construção da nova estrada não tenha sido planejada de
modo a evitar o desvio do tráfego atualmente atendido pela BR 230.
Questiona ainda a falta de discussão com os potenciais prejudicados e de
alternativas de emprego e renda para os que podem ficar sem nada.
“Os municípios
da Serra da Viração merecem o progresso, sim, mas não em detrimento da
débil economia do Vale do Sabugi com sua população quatro vezes maior”,
protesta.
Ricardo nem aí
Usei o twitter
semana passada para avisar ao governador e ao Doutor Efraim que por
i-meio, com pedido de posicionamento oficial, enviaria as considerações
do santaluziense aperreado com a nova estrada. Avisei e mandei, no mesmo
dia (sexta, 20).
Nada recebi do
governante ou do governo, que tem obrigação – inclusive por força de lei
– de prestar informações e esclarecimentos. Não ao colunista, mas ao
público em geral e, nesse caso, particularmente a mais de 36 mil
paraibanos ameaçados em sua sobrevivência por incompetência ou falta de
planejamento.
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