Dos 54 senadores eleitos em outubro de 2010, Jader Barbalho (PMDB-PA)
foi o último a tomar posse no Senado. Barrado inicialmente pela Lei da
Ficha Limpa, só foi empossado em 28 de dezembro de 2011, nove meses após
o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que a lei não valeu para as
eleições passadas. Sete meses após a sua posse porém, o senador Jader
Barbalho repete o deputado Jader Barbalho: é a discrição em pessoa.
Tal como em seus últimos dois mandatos na Câmara, Jader não fez um
único pronunciamento em plenário nem apresentou qualquer projeto de lei
desde que voltou ao Senado, em 28 de dezembro – dez anos após ter
renunciado para escapar de processo de cassação. Compareceu a pouco mais
da metade das sessões destinadas a votação, não registrou presença nas
comissões nem relatou qualquer proposição. Tamanha discrição, porém, não
sai de graça.
Apenas nos sete primeiros meses do ano, o peemedebista gastou R$
107,8 mil com a divulgação de sua atuação parlamentar. Entre janeiro e
julho, Jader destinou R$ 15,4 mil para a empresa que cuida de sua
comunicação na internet, sediada em São Bernardo do Campo (SP). Uma
conta que foi paga pelo Senado, que o ressarciu integralmente, a exemplo
do que é feito com todas as despesas dos senadores atribuídas ao
exercício do mandato.
Gastos e ausências
O ex-presidente do Senado foi o segundo senador que mais gastou com a
divulgação de sua atividade parlamentar no primeiro semestre
legislativo. Ficou atrás apenas de Ângela Portela (PT-RR), que despendeu
cerca de R$ 110 mil para propagandear sua atuação. Somados os gastos
com passagens aéreas, Jader teve mais de R$ 160 mil em despesas
ressarcidas pela Casa desde o início do ano.
O senador, que reclamou em sua posse ter perdido um ano de mandato
por causa da indefinição da Justiça sobre a Lei da Ficha Limpa, deixou
de comparecer a 40% dos 62 dias que o plenário do Senado reservou para
sessões deliberativas, entre janeiro e julho. Das 25 ausências
acumuladas por ele, três foram justificadas por motivo de saúde – no
início do ano, Jader foi submetido a uma cirurgia na próstata; 14 foram
atribuídas a compromissos relacionados à atividade parlamentar. Oito
faltas ainda não apareciam justificadas nos registros da Secretaria
Geral da Mesa até a semana passada.
Mesmo discreto, Jader continua poderoso, com cargos nos governos
federal e estadual. O senador que responde ao maior número de ações
penais no Supremo – é réu em cinco processos – elegeu como prioridade
fazer do filho Helder Barbalho (PMDB), de 33 anos, governador do Pará já
em 2014. O filho conclui este ano o segundo mandato consecutivo como
prefeito de Ananindeua (PMDB), na Grande Belém.
Pelo voto secreto
Jader deixou de votar proposições mesmo quando estava presente em
plenário. Foi o que ocorreu, por exemplo, no dia 4 de julho, quando o
Senado aprovou duas propostas de emenda à Constituição (PEC): uma delas
(PEC 86/2007) acaba com o voto secreto nos processos de cassação no
Legislativo e a outra (PEC 103/2012) reparte o ICMS arrecadado em
compras eletrônicas entre o estado produtor e o estado de residência do
comprador. Apesar de seu nome constar da lista de presença, ele não
votou nenhuma das duas proposições.
O peemedebista estava entre os seis senadores que admitiram ao
Congresso em Foco ter posição contrária à divulgação do voto dos
parlamentares em processos de cassação de colegas.
“Por princípio, convicção, eu sou contra o voto aberto em qualquer
caso. O voto secreto é um avanço da humanidade, é uma conquista na
evolução do processo político. Imagine se eu, como senador da República,
não tiver autonomia, direito a preservar meu voto?”, disse o senador à
reportagem duas semanas antes da votação.
Desde o início do ano, Jader apresentou apenas um requerimento. Um
pedido de informações endereçado à ministra do Planejamento, Miriam
Belchior, sobre o andamento do projeto Aços Laminados do Pará (Alpa),
lançado pelo governo federal.
Uma década de silêncio
O último registro de alguma fala de Jader em plenário no Congresso é
antigo. Data de 18 de setembro de 2001, quando renunciou à presidência
do Senado. De lá para cá, foram mais oito anos de Câmara e um semestre
de Senado sem que ele fizesse qualquer pronunciamento, nem mesmo as
tradicionais intervenções nos discursos dos colegas, os chamados
apartes. O último projeto de lei apresentado por ele é de 2000 e tratava
da destinação de recursos arrecadados com a privatização da Usina
Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.
Apesar da atuação discreta, a página do senador na internet aparece
recheada de notícias do mandato. Foram publicados mais de 40 textos
desde sua posse, entre notícias e artigos de autoria do peemedebista,
reproduzidos do Diário do Pará, periódico de maior circulação do estado e
que pertence à família Barbalho. Além de alimentar o site, a equipe
contratada pelo senador também responde pelas contas dele nas redes
sociais.
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