O professor Luiz Carlos Baldicero Molion, PHD em Meteorologia e
pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, alertou ontem, em João Pessoa, que a Paraíba deve se preparar para mais um longo período de poucas chuvas nos próximos oito anos.
O
alerta do pesquisador, que é representante dos países da América do Sul
na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial, foi
feito durante o lançamento da campanha "SOS Seca Paraíba". A campanha
foi lançada pela Assembleia Legislativa, durante solenidade bastante
concorrida, no Hotel Tambaú, em João Pessoa.
"Nos
próximos oito anos, vamos ter chuvas abaixo do normal, em relação ao
período entre 1977 e 1998", disse. De acordo com Molion, 2012
possibilitou aos nordestinos- aos paraibanos de modo particular- uma das
secas mais severas dos últimos 60 anos.
Segundo
ele, o epicentro da seca foi o Sertão, onde, nos meses de fevereiro,
março e abril do ano passado, choveu entre 300 mm e 400 mm a menos do
que no ano de 2011. "Foi uma seca bastante severa", reforçou Molion.
Segundo ele, as secas constantes e severas no semiárido nordestino têm relações diretas com fenômenos que ocorrem no Oceano Pacífico.
Quando as águas do Pacífico estão frias, as chuvas na Paraíba e nos
demais Estados nordestinos são reduzidas. Quando as águas esquentam no
Pacífico, as chuvas aumentam por aqui.
Estudos
citados por Molion apontam que, na Paraíba, entre 1947 e 1976, na fase
fria do Pacífico, choveu em média 650 mm por ano. No período de 1977 a
1998, as chuvas aumentaram para 760 mm, quando o Pacífico teve um
período quente.
Em
dezembro de 2012, Molion fez previsões para o período de fevereiro,
março e abril deste ano de 2013 no interior da Paraíba e de outros
Estados do Nordeste. A conclusão é que o modelo climático mostra uma
redução de 50 mm a 150 mm por ano.
As
chuvas estarão abaixo do normal em todo o Nordeste. O ano de 1951 foi
igual a 2012. A Paraíba mergulhou numa seca em 1951 e o mesmo aconteceu
entre 1962 e 1972. Só que, em 1972, não foi tão severa.
Molion
utilizou dados de 1952 para planejar a previsão para 2013. Disse que o
período de fevereiro a maio de 1951 foi similar ao que aconteceu em
2012. A tendência é de chuvas abaixo do normal.
Redução de 20% a 50%
Segundo o professor Molion, a Paraíba terá reduções de 20% a 50% na oferta de
chuvas este ano. O ano de 1951 foi similar ao de 2012 em termos de
chuva e seca. Em dezembro do ano passado, Molion usou dados do ano de
1952 para prever o que pode acontecer neste ano de 2013, em termos
climáticos no semiárido.
"A
situação permanecerá. Não vejo boas perspectivas para 2013", reforçou,
acrescentando que devem ocorrer trovoadas a partir de 20 de janeiro. "Se
ocorrerem boas trovoadas com chuvas, açudes e barragens podem encher,
mas entre abril e maio, as chuvas serão reduzidas", disse Molion.
Segundo
ele, o Oceano Pacífico controla os fenômenos El Niño e La Niña. Quando
ocorre o El Niño, há seca no Norte e Nordeste e chuva no Sul, Centro
Oeste e Sudeste. Quando ocorre o La Niña, chove no Norte e no Nordeste e
faz seca no Sul, Sudeste e Centro Oeste.
"Hoje,
estamos retornando ao período de 1947-1976, quando as águas do Pacífico
esfriaram", disse Molion. Naquele período de esfriamento, a Paraíba
registrou menos chuvas do que no período posterior de aquecimento do
pacífico, quando as chuvas aumentaram.
Atlântico também contribui
Mas
a temperatura no Oceano Atlântico, segundo Molion, também contribuem
para as secas e os períodos chuvosos no Nordeste. Entre 1948 e 1976, as
águas do Oceano Atlântico ficaram mais frias, proporcionando menos
evaporação e menos chuvas no Nordeste. Entre 1977 e 1998, as águas do
Atlântico ficaram mais aquecidas, o que proporcionou mais evaporação e
umidade com chuvas abundantes.
"Se
o clima que se estabelecer agora, com o Pacífico frio, for igual ao do
período de 1947-1976, haverá redução das chuvas no Cetro Oeste e
provocará excesso de chuvas no Rio de Janeiro", disse Molion, com base
em estudos de 27 anos de dados climáticos. E o excesso de chuvas no Rio
já está sendo verificado. Há dois anos, o Estado é atingido por
tragédias provocada pelo excesso de chuvas.
Ainda
em relação ao Nordeste, Molion disse: "Podemos estar voltando ao
período com menos chuva". Ele lembrou que até 1975, em média, as chuvas
foram todas mais baixas do que no período a partir de 1975. No período
até 1975, chovia 465 mm por ano, contra 561 mm entre 1977-98.
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