O
país vivia sob o jugo militar e a ordem do general-presidente era por
fim ao jogo do bicho no Brasil. “Na Paraíba ninguém acaba”, desafiou
Agripino.
Certo dia, ao final de uma reunião da Sudene, no Recife, o governador paraibano foi procurado pelo comandante do IV Exército, general Malan, que lhe comunicou:
- Governador, o senhor sabe que o governo federal resolveu acabar definitivamente com o jogo do bicho no país, não sabe? Foi uma determinação pessoal do presidente da República. Aqui, na minha área, o jogo já está proibido da Bahia ao Ceará, com exceção da Paraíba, onde se joga abertamente, sendo bancado pela própria Loteria. Por isso, queria pedir a sua compreensão e suas providências para que seja cumprida a decisão do governo.
João acendeu um cigarro, olhou firme para o general, soltou uma risada e perguntou:
- O senhor acredita mesmo, general, que acabou com o jogo do bicho na sua área?
- Tenho certeza – replicou o general.
Agripino não contou conversa:
- O senhor poderia me acompanhar no meu carro para verificar como o senhor está mal informado? Agora, que fique claro: vamos fazer isso com o compromisso de o senhor não tomar nenhuma medida contra o pobre coitado que vai me servir de cobaia. Sabe, general? Eu poderia até proibir o jogo do bicho no meu Estado, mas isso iria provocar um problema social muito grave, porque são mais de 40 mil pessoas que vivem do jogo na Paraíba. Se o senhor me garantir 40 mil empregos para essas famílias, porém, eu assumo o compromisso de extingui-lo em meu Estado. Agora, vamos ali.
Entraram no carro e Agripino deu ordens ao seu motorista, um contumaz apostador, que fosse ao ponto onde fazia a sua fezinha.
Era um caldo de cana, numa rua estreita, no centro do Recife. Lá, o chofer pediu uma carteira de cigarros, deu uma nota de um mil cruzeiros. O dono do bar avisou que não tinha trocado.
- Então me dê o troco de macaco.
Conforme relato no livro “O mago de Catolé”, aquela era a senha. O homem entrou num cômodo protegido por uma cortina de plástico e voltou com um pule, que o motorista entregou ao governador ao retornar ao carro. Agripino passou o pule para o general Malan, que ficou boquiaberto.
- Guarde isso como lembrança. Mas não se esqueça do compromisso: nenhuma represália contra o dono dessa banca. É um pobre coitado que tira dela o seu sustento – disse Agripino ao general. Era o homem franco e o político justo em ação.
João Agripino
João Agripino foi procurador da prefeitura do Brejo do Cruz, promotor público do Jardim do Seridó e um dos fundadores da União Democrática Nacional
(UDN), candidatou-se nessa legenda, pelo seu estado, em 1946, cumprindo
sucessivos mandatos, até 1961. Licenciou-se, nesse ano, para ser o
primeiro titular do Ministério de Minas e Energia, permanecendo no cargo durante o governo Jânio Quadros, de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961, voltando à câmara federal.
Foi reeleito e, em 1962, elegeu-se ao Senado. Apoiou o movimento militar que, em 1964, depôs o presidente João Goulart; com a instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Foi governador da Paraíba de 31 de janeiro de 1966 a 15 de março de 1971; seu antecessor foi Pedro Gondim e foi sucedido por Ernâni Sátiro
através do voto indireto; diretor do Banco Industrial de Campina
Grande; ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) (1973), do qual
foi presidente. Com a volta do pluripartidarismo, filiou-se, em 1981, ao
Partido Popular (PP), e, com a incorporação deste ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), elegeu-se, nessa legenda deputado federal, em 1982.
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